Com a identificação de 939 casos positivos da Doença de Chagas em 48 municípios, os resultados do Projeto de Rastreamento por Eletrocardiograma (ECG) foram apresentados pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) neste mês aos gestores do Norte de Minas. A apresentação ocorreu durante a reunião da Comissão Intergestores Bipartite do Sistema Único de Saúde (CIB-SUS).
O projeto teve início em abril de 2023, na microrregião de Saúde de Monte Azul, expandindo-se no segundo semestre para cinco municípios da microrregião de Saúde Coração de Jesus. Desde fevereiro de 2024, uma iniciativa foi renovada em outras cinco microrregiões, com o apoio da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, que mobilizou gestores para adesão ao programa.
Coordenado pelo Centro São Paulo-Minas Gerais para Tratamento da Doença de Chagas (SaMi-Trop) , o projeto atua desde 2013 em pesquisas sobre doenças negligenciadas. Ele conta com a colaboração de profissionais da Unimontes, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e Universidade de São Paulo (USP).
A Gravidade da Doença de Chagas
Transmitida por diversas vias, com destaque para a vetorial, a Doença de Chagas é provocada por espécies de triatomíneos, conhecidos como “barbeiros”. Estima-se que entre 6 e 8 milhões de pessoas no mundo vivam com a doença, e mais de 75 milhões estejam em áreas de risco. Apenas 10% dos casos são divulgados precocemente, com menos de 1% recebendo tratamento adequado, o que pode levar à evolução para formas crônicas que comprometem o coração e o sistema digestivo.
A professora Ariela Mota, do Centro de Especialidades Ambulatoriais Tancredo Neves (Caetan), alertou que a prevalência da Doença de Chagas no Norte de Minas é alarmante, atingindo 40%, enquanto em Minas Gerais a média estadual é de 4% . Para ela, é fundamental que os serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) intensifiquem a identificação de casos suspeitos, realizem exames diagnósticos e encaminhem os pacientes para tratamento especializado.
Apesar das limitações da equipe no Caetan, os profissionais estão se empenhando em garantir o acesso dos pacientes examinados à assistência especializada. Atualmente, mais de mil pessoas aguardam a primeira consulta, mas a prioridade é para aquelas identificadas pelo projeto.
Encaminhamentos e Atendimento
Os resultados dos exames realizados pelo SaMi-Trop foram repassados às secretarias municipais de saúde, responsáveis pela busca ativa e encaminhamento dos pacientes ao Caetan, vinculados ao Hospital Universitário Clemente de Faria.
Para o agendamento, as secretarias deverão entrar em contato pelo telefone (38) 9-9116-8346 , após confirmação do diagnóstico por sorologia com dois métodos reagentes IgG. Além disso, é necessário emitir uma ficha de encaminhamento e registrar o caso no sistema e-SUS Notifica .
Avanços e Metodologias
O projeto é financiado pelo National Institute of Health (NIH) , a maior agência governamental de pesquisa biomédica do mundo, sediada nos Estados Unidos. Em Minas Gerais, a iniciativa abrangerá 107 municípios sob jurisdição das Superintendências Regionais de Saúde de Montes Claros e Divinópolis.
Com mais de 30 artigos científicos publicados, o SaMi-Trop busca metodologias aprimoradas para aumentar o número de diagnósticos, ampliar o acesso ao tratamento e melhorar o acompanhamento dos pacientes. Além disso, os pesquisadores trabalham no desenvolvimento de ferramentas para avaliar novos tratamentos.
Essa ação reafirma o compromisso com a saúde pública e a luta contra a Doença de Chagas, promovendo impacto positivo no cuidado de saúde pública.
Redação Site